Charles Darwin, o Administrador de Empresas

Dentre um dos estudos do professor e escritor Michael Porter (1991), encontramos o que ele chamou de 5 forças de Porter. Segundo ele, essas 5 forças que atuam na indústria são:

  • Novos entrantes
  • Substitutos
  • Fornecedores
  • Clientes e
  • Concorrência

Na verdade, esses quatro primeiros pontos “comunicam-se” entre si por meio do último, a concorrência.

Vamos então ler esse texto empresarial:

“Uma vasta região aberta oferece não somente mais probabilidades para que variações vantajosas … mas também em razão de que as condições de vida são muito mais complexas por causa da multiplicidade … já existente. Ora, se alguma … se modifica e se aperfeiçoa, outras devem aperfeiçoar-se também na mesma proporção, senão desapareceriam fatalmente.”

Esse texto pode até parece-nos lembrar de aspectos associados com as 5 forças de Porter (1991). Certo? Mas deixa eu te contar um segredo. Esse texto eu retirei do livro ‘A Origem das Espécies’ de Charles Darwin (2017). Na verdade a frase original dele é essa:

“Uma vasta região aberta oferece não somente mais probabilidades para que variações vantajosas façam a sua aparição em razão do grande número de indivíduos da mesma espécie que a habitam, mas também em razão de que as condições de vida são muito mais complexas por causa da multiplicidade das espécies já existentes. Ora, se alguma destas numerosas espécies se modifica e se aperfeiçoa, outras devem aperfeiçoar-se também na mesma proporção, senão desapareceriam fatalmente.” (Darwin, 2017, p. 146).

Darwin escreveu sobre como as diferentes espécies lutam pela vida ao demonstrar sua teoria da sobrevivência do mais apto por meio da seleção natural. Mas veja que através do seu livro podemos até fazer analogias empresariais em diversos trechos.
Vejamos outra passagem do livro ‘A Origem das Espécies’.

“A quantidade de nutrição determina, diga-se de passagem, o limite extremo da multiplicação de cada espécie; mas, mais ordinariamente, o que determina o número médio dos indivíduos de uma espécie, não é a dificuldade de obter alimentos, mas a facilidade com que esses indivíduos se tornam presa de outros animais.” (Darwin, 2017, p. 94).

Dentro de uma análise no contexto empresarial, talvez pudéssemos imaginar a ‘nutrição’ como a demanda por um serviço ou produto. Ou seja, a demanda controla a multiplicação da espécie, ou a multiplicação das empresas.
E conseguinte, a análise da próxima frase poderia ser comparada a algo que pode determinar a eliminação de companhias em quaisquer segmentos. Como Darwin diz, é “a facilidade com que esses indivíduos se tornam presas de outros animais”. Outros animais poderiam ser grandes corporações que compram empresas menores na busca por ampliar sua atuação no mercado.

Lembrando que esse é tão somente um exercício mental, pois Darwin pesquisou de fato sobre as plantas e animais e não sobre negócios. Mas com frequência vemos a Seleção Natural de Darwin sendo usada em discursos empresariais. Então eu queria mostrar que as semelhanças podem ir muito além. Corroborando ainda mais com esse cenário, lembro aqui um outro autor que pesquisou um tema correlato. Assim, por meio da Teoria Geral dos Sistemas, o também biólogo Ludwig Von Bertalanffy (1968), mostrou que os sistemas fechados tentem a morrer. E sua continuidade é obtida através de interações. Assim são também as companhias. Sem a existência das 5 forças de Porter, ou pelo menos de algumas dessas forças, não haveria assim, uma empresa de fato.

Porém, mesmo o livro ‘A Origem das Espécies’ sendo um livro de biologia, Charles Darwin em um dado momento até faz uma analogia com o ambiente econômico:

“Da mesma forma, na economia geral de um país qualquer, quanto mais as plantas e os animais oferecerem diversidades nítidas apropriando-as a diferentes modos de existência, tanto mais considerável é o número de indivíduos capazes de habitar este país” (Darwin, 2017, p.158).

Uma forma que identifiquei ao “ler” essa colocação, seria, por exemplo, que quanto mais nichos de negócios forem criados e esses tiverem seus consumidores para essas ofertas, em maior número serão as companhias capazes de atuarem no mercado.

Referências:
Bertalanffy, L. (1968). General system theory. Canada: University of Alberta Edmonton.

Darwin, C. (2017). A origem das espécies: Textos para Reflexão.

Porter, M. (1991). Estratégia competitiva. 9a. Edição. Rio de Janeiro: Editora Campus.